Ripple e Bitcoin no Fórum Econômico Mundial

Davos

Cidade de Davos, onde ocorre o Fórum Econômico Mundial

 

A renomada economista e professora da Universidade de Stanford, Susan Athey (@Susan_Athey), foi convidada para falar sobre sua visão de como as criptomoedas podem transformar o mundo. Até 2 anos atrás, as criptomoedas eram conversa de entusiastas e nerds, agora são discutidas no mais importante fórum econômico do mundo. As coisas estão andando rápido.

Em seu artigo são delineadas as 5 principais mudanças trazidas pelas criptomoedas:

 

1 – Transferências Bancárias mais rápidas.

“A forma como os bancos movimentam dinheiro hoje é arcaica. Transferências bancárias internacionais podem levar até uma semana, recorrendo a bancos correspondentes e câmaras de compensação específicas para cada país envolvido, em ambas as pontas. Mesmo a trasnferência transfronteiriça de dados de pagamento enfrenta desafios e atritos. Ao usar uma moeda digital, como bitcoin, transferências bancárias poderiam ser feitas instantaneamente, de forma barata e segura. Na verdade, essas transferências poderiam acontecer mesmo sem o uso de novas moedas. Ripple Labs, empresa para a qual sou uma conselheira, suporta um protocolo que permite aos clientes transferir fundos de uma moeda para outra (por exemplo, de dólares para euros), utilizando um “ledger” digital seguro. Sua tecnologia movimenta dinheiro em todo o mundo em segundos primeiramente encontrando o caminho mais eficiente entre os envolvidos na transação, caminho que pode consistir de uma série de transações entre diversos operadores de câmbio que têm contas em vários bancos, e, em seguida, confirmando todas as operações necessárias simultaneamente.”

 

2 – Um impulso para remessas internacionais de dinheiro.

“Todos os anos, os egressos de países em desenvolvimento enviam para casa mais de 500 bilhões de dólares em remessas, uma quantia que excede o investimento estrangeiro direto. Com taxas totais para as transferências internacionais em média 6-10% para o envio de US $ 200, a carga sobre algumas das pessoas mais vulneráveis do mundo é substancial. A tecnologia tem o potencial de ajudar essas transferências a tornarem-se rápidas e baratas. Usando uma moeda virtual, os usuários finais poderiam até mesmo enviar o dinheiro diretamente para suas famílias via telefone celular, pagando apenas as taxas pelas trocas de moeda. Enquanto as empresas de transferência de dinheiro tradicionais precisam dispor de grande capital para compensar atrasos na circulação internacional de dinheiro, as exigências de capital para as empresas que utilizam moedas digitais são muito mais baixos.

Naturalmente, os custos de capital e de movimento de dinheiro compreendem apenas uma parte do custo para as empresas de remessas. No entanto, a redução destes custos pode tornar mais fácil para empresas menores entrarem e estabelecerem novos corredores de remessas, ou para empresas já existentes atenderem cidades menores ou novos países.”

 

3 – Dinheiro seguro para os mais pobres.

“A explosão da tecnologia móvel na África já mostrou que os países em desenvolvimento podem liderar quando se trata de tecnologia sofisticada. As estimativas sugerem que 60% ou mais do comércio no Quênia ocorre usando créditos de telefonia móvel como um meio de troca. Qualquer pessoa com um telefone celular pode armazenar dinheiro lá, e enviar créditos para outro usuário. O problema é que as taxas são grandes: historicamente, um saque pode custar até 20%, embora a aceitação generalizada dos créditos significa que muitos consumidores são capazes de gastar os créditos diretamente, sem incorrer em grandes taxas. Moedas digitais poderiam tornar-se uma outra forma conveniente e segura de pagamento em países onde a maioria dos cidadãos não têm contas bancárias. Ainda que, ao usar bitcoin como uma segunda moeda, um país exporia seus cidadãos à um certo risco cambial, isso ainda poderia ser melhor do que certas opções existentes, sobretudo em países de inflação alta. Seria, por exemplo, fisicamente mais seguro do que o armazenamento de dinheiro em casa ou comprar jóias de ouro. Além disso, alguém portando bitcoins poderia trocá-lo por uma moeda mais estável em uma das exchanges globais de bitcoin. Desta forma, poderia-se ampliar o acesso aos mercados financeiros internacionais, permitindo ao desbancarizado guardar dinheiro e proteger-se contra a inflação. Uma consequência possível é que seja mais difícil aplicar controles de capitais.”

 

4 – Libertando o potencial do e-commerce.

“Hoje, as preocupações com fraude de cartão de crédito estão forçando muitos comerciantes on-line a recusar bons negócios. Essa fraude é mais comum em transações globais, e por isso muitas empresas não aceitam pagamentos internacionais. Com uma moeda digital, como bitcoin, a transferência não pode ser desfeita. Isso elimina o risco de fraude para os comerciantes, permitindo-lhes vender em todo o mundo. E, uma vez que as moedas virtuais permitem aos clientes enviar fundos tão facilmente como e-mail, fazer compras on-line se transformaria em um processo muito mais suave. Moedas digitais também podem permitir que pequenas empresas em países em desenvolvimento se envolvam mais no e-commerce global. Fornecedores latino-americanos poderiam vender produtos artesanais globalmente, adolescentes chineses poderiam oferecer aulas de Mandarin via Skype, e as empresas africanas que desejam comercializar seus produtos através de anúncios em mercados online teriam uma opção de pagamento que não está disponível hoje. Transações de pequeno valor são um caso de uso particularmente importante, já que taxas de transação pequenas poderiam permitir compras de baixo valor dentro de apps ou micro-pagamentos para a leitura de artigos de notícias on-line em meios de comunicação ao redor do mundo.”

 

5 – Dinheiro “programável” e “SmartContracts”.

“Uma vez que um ativo é puramente digital, ele pode ser movido de maneira automatizada. Isso abre caminho para o “dinheiro programável” e para os “contratos inteligentes”. Um exemplo prático seriam as “contas de escrow”. Estas contas já são usadas em operações de grande porte, tais como negócios imobiliários. O comprador coloca o dinheiro em juízo, que só é liberado para o vendedor quando ele ou ela entregar o título de propriedade. Na era digital, onde a questão da confiança pode ser um impedimento chave para indivíduos que desejam realizar transações com desconhecidos, este sistema poderia ser usado para quantias muito menores. Outro exemplo é multisig (multiassinaturas), onde o dinheiro só pode ser pago a partir de uma conta quando vários indivíduos autenticarem a transação. Isso pode ser usado para prevenir o roubo de fundos digitais, mas também pode ajudar as empresas a garantir que o dinheiro não seja “perdido” ou roubado quando ele se move através das fronteiras, ou entre os departamentos de uma empresa, ou entre organizações de caridade e contratados nos países em desenvolvimento. Dinheiro programável também pode ter um papel em contratos muito mais complicados, tais como contratos financeiros envolvendo múltiplas partes e derivativos complexos. Você poderia colocar uma quantia de dinheiro em um contrato financeiro que pagaria de acordo com a variação de certos preços de ações. Um programa de computador pode estar ligado à preços das ações a partir do terminal Bloomberg e depois, dependendo do que acontecesse com certas ações ou certas combinações de ações, indivíduos diferentes receberiam os fundos.”

 

Veja a entrevista gravada em Davos

 

Mais sobre Susan Athey

 

Tradução: Rafael Olaio

Textos traduzidos de:

https://agenda.weforum.org/2015/01/5-ways-digital-currencies-will-change-the-world/