Bitcoin e moedas Fiat – um estudo de volatilidade comparada

O bitcoin atingiu valor de capitalização de cerca de US$ 10.9 bilhões, o que é o seu maior valor atingido desde seu boom inicial, que ocorreu entre novembro/13 e começo de janeiro/14. Por outro lado, o número de transações diárias, que chega a 225 mil atualmente, é 285% maior do que janeiro/14 e, em relação a usuários, em apenas um dos principais provedores de carteiras (Blockchain Wallet), o número cresceu de 600 mil para 7.6 milhões nos dois últimos anos. Abaixo pode-se verificar a recuperação do valor de mercado do bitcoin nos últimos meses após seu ápice inicial em janeiro de 2014:

Figura 1 – Valor de mercado do Bitcoin em US$ – fonte: blockchain.info

 

Aliada a sua alta utilização, em outubro de 2015, a Corte de Justiça da União Europeia declarou o bitcoin um meio de pagamento reconhecido, isentando-o ainda do imposto sobre vendas de bens e serviços (VAT – “Value Added Taxes”), o que representa os primeiros passos do reconhecimento de seu valor como moeda. De mesmo peso, ainda em 2015, Susan Athey, medalha John Bates Clark de economia, apresenta no Forum Econômico Mundial de Davos as moedas digitais como principal caminho para a expansão do mercado internacional, além de ser uma ferramenta alavancadora da inclusão social mundial.

Números interessantes e aváis de peso, mas quanto ainda o bitcoin se distancia de se tornar realmente uma moeda sólida para uso no comércio internacional ? Com esta questão em mente, iniciei um trabalho de pesquisa acadêmica em riscos sobre o bitcoin, que tem como primeiro resultado, o que será apresentado nos próximos parágrafos e cujo texto na íntegra pode ser baixado através do link que se encontra no final deste artigo.

Segundo N. G. Markiw, professor em Harvard e um dos principais autores da Nova Economia Keyneziana, uma moeda deve ser avaliada através de três atributos: ser um meio de troca reconhecido para bens e serviços; armazenar valor, transferindo-o do presente para o futuro; e ser uma referência como unidade de valor. Para os pesquisadores da economia do bitcoin, dentre eles David Yermack e Pedro Franco, há um consenso de que o bitcoin, como moeda, é um bom meio de troca, um arriscado meio de armazenamento de valor e pobre quanto unidade de valor, tendo como principal fator influenciador, a sua alta volatilidade demonstrada durante seus anos de vida até aqui.

Com base nas afirmações acima, que tem caráter qualitativo e com a carência de pesquisas de mesmo teor de ordem quantitativa, utilizei-me de modelos estatísticos, mais precisamente de modelos GARCH, que tem um bom embasamento para tal fim, para tentar verificar que, se o bitcoin tem restrições dos economistas quanto ao seu potencial de moeda e, que sua volatilidade é o principal fator para a restrição, então como esta afirmação se traduz em termos numéricos, ou seja, quão volátil o bitcoin é e como ele se compara em relação às moedas governamentais (ou moedas Fiat, como também são conhecidas).

A pesquisa foi feita com base na variação dos valores de mercado do bitcoin e de outras 6 moedas (Real brasileiro – BRL; Renminbi chinês – CNY; Euro da Comunidade Européia -EUR; Iene japonês – JPY; Peso mexicano – MXN; Dólar canadense -CAD), além de uma carteira de moedas calculada pelo FED–EUA, denominada Broad (BRD), em relação ao dólar do período de fevereiro de 2012 a fevereiro de 2016, colhidos da fonte Blockchain.info e dos registros do FED Americano para as moedas fiat e para sua carteira de moedas. Para uma primeira análise do comportamento das moedas, as curvas históricas de valor e retorno são apresentadas abaixo:

 

Figura 2 – Preços do Bitcoin, 6 moedas fiat e uma carteira de moedas (BRD) em dólar de fevereiro de 2012 a fevereiro de 2016

 

Pode-se notar em análise gráfica da figura acima, que o bitcoin demonstra um maior grau de volatilidade, tendo seus retornos variando em 25% e com picos de 50%, enquanto moedas Fiat mais voláteis, como Real, têm variações abaixo dos 2.5% com picos não superiores a 5%. Por outro lado, nota-se que sua volatilidade vem diminuindo no decorrer dos períodos, enquanto outras moedas não apresentam comportamento similar.

Para se ter números mais precisos, porém, foram utilizados modelos estatísticos e as séries de variação foram calculadas e ajustadas com modelos GARCH(1,1), GARCH(2,1), GARCH(1,2), GARCH(2,2) e IGARCH, usando a distribuição normal e distribuição t-student, sendo que o modelo que melhor se ajustou foi o IGARCH com distribuição t-student.

Como resultado do modelo, utilizou-se o parâmetro do modelo IGARCH que representa, de forma livre, o grau de volatilidade potencial futura das moedas, tendo como o base, os valores passados. Os valores encontrados do parâmetro são apresentados abaixo:

Tabela 1 – Parâmetros λ – IGARCH sobre as séries de variações diárias do bitcoin, 6 moedas fiat e mais a carteira de moedas (BRD).

 

Nota-se que o indicador do bitcoin, em 0.19, é 2.2 vezes maior que o Real, moeda com maior indicador de volatilidade e 4.2 vezes maior que a carteira Broad de moedas. Outros resultados da proporção entre os indicadores pode ser encontrada na tabela abaixo:

Tabela 2 – indicador de comparação de volatilidade entre bitccoin e demais maoedas fiat além da carteira de moedas (BRD) calculada como a razão simples entre os indicadores λ de volatilidade de cada moeda, calculados através do modelo I-GARCH.

Como resultado deste trabalho, pode-se concluir que a volatilidade do bitcoin ainda é alta em relação às moedas Fiat, o que justifica as considerações qualitativas dos economista quanto ao seu poder de armazenamento de valor e quanto a sua maturidade enquanto moeda. Porém, este é um primeiro trabalho de caráter quantitativo em relação a indicadores econômicos do bitcoin, e, com a queda da volatilidade recente da moeda, notada nos gráficos, é desejável que novas pesquisas sejam feitas, não só com dados atualizados e em diferentes janelas de análise, mas também com outros modelos e indicadores econômicos que completem este trabalho, o que poderá trazer futuros materiais para este blog.

Veja o paper na íntegra:

https://www.academia.edu/26192798/BITCOIN_E_MOEDAS_FIAT_UM_ESTUDO_DE_VOLATILIDADE_COMPARADA

 

Por Paulo Lavinas,

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